sábado, 14 de março de 2009

Desprendimento

Comecei a pensar em meu desprendimento material no dia em que entrei de férias. Neste dia, trabalhei até às 17h e ainda conversei com uma amiga sobre a minha intenção de jogar fora tudo o que não uso mais, o que não quero mais. Recebi palavras de incentivo e mais tarde um “tenha fé!” que muito me ajudou na difícil missão. Sim, tornou-se uma missão para mim.
Cheguei sexta-feira, não podia mais esperar pelo dia de amanhã, afinal, eu já vinha adiando isso faz tempo, acho que esse projeto acompanhava-me umas 5 férias. Iniciei então o que mais tarde eu me referiria como sendo um ritual de desprendimento.
Comecei pelas prateleiras, pensei comigo que seria fácil e rápido. Enganei-me, como fui descobrir depois.
Nunca pensei que em um cômodo tão pequeno caberia tanta coisa. Iniciei a limpeza pela prateleira mesmo. Tenho três em meu quarto. Dali saiu papéis em que eu não mexia uns 3 anos. Caixas vazias. Bilhetes que agora não fazem mais sentido. Joguei fora. Joguei fora isso tudo. Foram três doloridos sacos de lixo. Doloridos porque carregar aquilo tudo, deu um enorme trabalho, assim como ficar dependurada na prateleira mais alta. Mas como foi bom!
Apostilas de um curso de agronomia que eu não pude concluir foram para o lixo. Isso doeu também, pois ainda restava a esperança de quem sabe um dia voltar. Matei uma faísca de esperança e fui realista agora. Não vou voltar porque tenho um bom emprego e cá entre nós, eu gosto muito do que eu faço também. Fantasmas do passado começavam a se desvanecer.
Neste momento dei-me conta dos motivos quem me levaram a demorar tanto para decidir arrumar meu quarto: não queria me desprender do passado.
Parti então para uma pequena estante, outra leva de sacos de lixo. Ainda bem que no pequeno cômodo não há espaço para estantes maiores. Seria trabalho dobrado.
Encontrei coisas bem legais. Um cartaz que ganhei quando comecei a trabalhar em 2003. fiquei com pena de jogar fora, mas o fiz. Entretanto tirei uma foto para guardar a recordação. Abandonei o curso de agronomia, jogando fora o que ainda restava, mas quando vi esse cartaz, fiquei feliz. Sim, estou onde eu sempre quis estar. Sou professora.
Dores e lembranças à parte, a labuta continuou por mais quatro dias. Armário também passou pelo meu crivo. Não estou ainda satisfeita, pois nem mexi nas roupas. Mas só organizar as outras coisas, me deu uma sensação de leveza. Frascos de perfumes vazios, que eu mantinha apenas por valores sentimentais descartados. Prefiro agora pensar na pessoa que os deu do que guardá-los. Deram lugar aos meus perfumes preferidos. Cremes que eu não uso, nunca usei e agora me pergunto para que comprei? Sem resposta.
Meu quarto está de ficando de cara nova.
Uma vez li em algum lugar, que o quarto de uma pessoa era reflexo do que a pessoa estava passando. Analisei com cuidado e afinco a frase. Não sei quem a escreveu, mas é uma pessoa sábia.
Há tempos meu quarto permanecia no caos. Minha vida também. Decidi organizar tudo isso. Comecei pelo mais fácil, torcendo para que o próximo passo não seja muito doloroso.
Joguei fora muitas coisas, encontrei outras que eu nem lembrava mais.
Agora estou aqui, sentada observando meus feitos. Acredito que acabei parcialmente. Conforme eu ia arrumando, jogando fora o que não presta mais, ia me dando uma vontade crescente de jogar mais coisas foras. É esse sentimento de inacabado que ficou com o fim de minha limpeza.
Contabilizei vários sacos de lixo, para jogar tudo isso na lixeira vai ser fogo, mas agora vou ter tempo finalmente de fazer o meu tapete de retalhos.

(Esse texto foi escrito antes do "tapete de retalhos", mas apenas agora tive vontade de compartilhar com outras pessoas. Acho que deve ter sido pela necessidade de me desprender novamente)

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